"Crash" mostra uma visão agressiva e perturbadora das complexidades que envolvem as questões raciais na América contemporânea. Ao mergulhar de cabeça nas confusões ideológicas nascidas no pós 11 de Setembro, este drama urbano desenha as inconstantes interseções entre personagens pertencentes a diferentes etnias, que lutam para superar seus medos enquanto suas vidas se cruzam. Uma dona-de-casa e seu marido, um promotor público, uma lojista de origem persa (iraniana), dois detetives da polícia, um diretor de televisão afro-americano e sua esposa, dois policiais, um chaveiro mexicano, dois ladrões de carro, um casal coreano de meia idade. Todos vêem suas vidas colidindo após uma série de eventos inevitáveis, no período de 36 horas com consequências surpreendentes. In the end of the day, a maioria é racista, brancos contra negros e latinos, negros que preservam (com ou sem razão, não se discute) o ódio secular ao branco escravizador, ao mesmo tempo em que precisa se firmar na sociedade que existe, aqui e agora, com seus valores de origem européia, negros que desprezam os "gooks" (amarelos), amarelos (coreanos) que traficam cambojanos. Os amarelos (japoneses, chineses e coreanos, pelo menos) sempre consideraram os brancos bárbaros e inferiores e assim por diante. O filme mostra todos estes ódios e frustações cruzados. Mas mostrar não é explicar! Sociologicamente falando, o filme falha, não "explica", não consegue sugerir por que as coisas são assim. E, no entanto, prende nossa atenção, conquista nossa percepção por que reflete aquilo que experimentamos no dia-a-dia das grandes cidades: a pressão homogeneizadora da sociedade cujo único valor permanente é o da compra e venda, gerando stress, depressão, explosões de insegurança e raiva, que trazem à tona os velhos preconceitos e deixam claro que o racismo está longe de acabado ou dominado. Está apenas ideologicamente patrulhado... Um grande filme falho, que muitos de nós costumamos admirar e que tem uma trilha sonora magnífica e, em "In The Deep", seu ponto mais alto.
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