Rio Vermelho

Clássicos do Cinema - 1948

Alguns filmes foram destinados a permancer eternamente vívidos, assim como a vida que sempre se renova, apesar de todos os percalços. "Rio Vermelho", um dos grandes clássicos de Howard Hawks é um deles. A sensação de liberdade e o realismo ainda são os seus maiores trunfos, junto com a interpretação magistral do grande John Wayne (ainda antes de Ethan Edwards, o seu grande personagem em “A Desaparecida”), como Dunson, o vaqueiro que, assim como o seu filho adotivo Matthew (interpretado pelo igualmente grande Montgomery Clift) e um grupo de vaqueiros contratados, que tem como missão levar 10.000 cabeças de gado por um deserto cheio de perigos (lindíssimo) com os índios Comanche na sua cola. Embora as cenas de acção sejam impressionantes (ainda mais quando se tem em conta a época em que o filme foi feito), o melhor do argumento (que é repleto de reviravoltas e surpresas espectaculares) é a relação tensa entre os personagens, especialmente entre Dunson e Matthew. Wayne está fabuloso com um personagem ambíguo, nunca sabemos se ele é realmente uma boa pessoa, e em diversos momentos ele demonstra ser tudo menos isso. O seu método brutal e despótico acaba por gerar um motim entre os seus vaqueiros. As desoladas cenas em que é abandonado apenas com um cavalo no meio do deserto ajudaram a construir o mito de John Wayne no cinema. É um grande actor num grande momento. O jovem Clift, embora não chame tanta atenção como o veterano Wayne, faz um bom papel nas cenas difíceis que tem, principalmente nas que tocam ao relacionamento conflituoso com o seu "pai". A cena em que Clift finalmente ergue-se contra o autoritarismo de Wayne e o enfrenta numa briga de punhos é reveladora, bela e emocionante. A realização de Hawks é magistral e segura e uma coisa que poucos sabem é que ele dividiu a realização com Arthur Rosson. Tudo funciona como uma máquina, inclusive com a presença de uma miúda arrogante (e até certo ponto, irritante), salva por Clift dos índios. Ela difere um pouco do modelo feminino que Sergio Leone colocaria 20 anos mais tarde no belíssimo "Era Uma Vez no Oeste". Muitos consideram "Rio Vermelho" a mais perfeita representação do que seria o Western americano. Talvez estejam certos. Concorreu a dois Oscares (Montagem e Argumento) e não ganhou nenhum. Hoje, a obra mostra-se acima de tudo, como um dos grandes clássicos. Trata-se de um espetáculo mágico e monumental, do tipo que não vemos nos cinemas hoje em dia, infelizmente.

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