Ao contrário do que sugere de imediato, "A Garota Ideal" não é uma comédia romântica ou uma mera comédia-comédia. É um drama baseado numa situação potencialmente engraçada. Trata-se da história de Lars (Ryan Gosling), um homem solitário, com sérios problemas de socialização. Ele sequer consegue conviver com o irmão e a cunhada (Paul Schneider e Emily Mortimer), carrega no pescoço um cobertorzinho de quando era criança, vive numa garagem, não dá atenção à menina no escritório que parece interessada nele... Um belo dia, Lars encomenda uma dessas bonecas em tamanho natural que parecem reais. Ele a tratará como se fosse uma pessoa de verdade. Para sua família ele menciona que "Bianca" é uma missionária brasileira, um tipo (fisicamente) Angelina Jolie, que não acredita em sexo pré-marital - portanto ficará hospedada na casa do irmão. A coisa toda beira as raias da loucura, pois Lars não só dá nome à boneca, ma atribui-lhe personalidade e até temperamento. Compra-lhe roupas e passeia com Bianca pela cidade, apresentando-a aos amigos e parentes. Aí, entra o imponderável salutar, por bondade e solidariedade humana, os habitantes da cidade não riem de Lars, não caçoam de seu delírio, antes apoiam sua fantasia na esperança que ela se esvaia por si mesma. Bobagem, besteira, inverossímel, impensável... E os filmes de aventura e ação que infestam as telas e aos quais comparecem milhões no mundo todo? Os feitos de Jason Statham ou do Homem Aranha são mais verossímeis? Jornada nas Estrelas ou Guerra nas Estrelas são mais reais? Ficção científica tem mais licença poética ou inventiva que um drama premissado numa doença social da época - a solitude ou incomunicabilidade sociais? Proibido para bitolados culturais de todas as idades!
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