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quinta-feira, 25 de junho de 2009

Lacombe, Lucien


Assim como "Pretty Baby", "Lacombe, Lucien" é outro filme desconcertante do diretor francês Louis Malle.Malle tem a vantagem, sobre outros grandes diretores franceses, de não estar tolhido por nenhuma bitola intelectual ou ideológica. Enquanto mestres como Goddard e Truffaut estão profundamente impregnados da minissaia intelectual do "Cahiers du Cinema", Malle chegou a um completo humanismo radical, sem atrelamento a concepções prontas e modismos intelectuais. Neste filme, um jovem bronco, do interior da França, Lucien, leva uma vida embrutecida, na qual mata pássaros, galinhas, coelhos e, posteriormente, gente, sem qualquer tipo de dilema moral. Estamos em 1944 e Lucien tenta entrar para os maquis, os quais, infelizmente, Malle parece confundir com a Resistência (Os maquis eram mera guerrilha, sem coesão e organização, ao passo que a Resistência foi um amplo movimento de luta contra a Ocupação e atuação política. Lucien é recusado. Voltando para casa, não pôde obedecer ao toque de recolher devido a um pneu furado em sua bicicleta. Em consequência, é preso pela polícia alemã e, após um hábil interrogatório, denuncia seu ex-professor que era maquis ou resistente (repetimos que Malle parece fazer alguma confusão, aqui) e fora seu intermediário na tentativa de entrar na luta clandestina. A tranquilidade com que Lucien faz sua denúncia atrai a atenção da Gestapo, a qual o acolhe em suas fileiras e, pela primeira vez na vida, lhe proporciona um senso de status, de importância, dinheiro. Pela primeira vez, Lucien se sente adulto. Ele não tem a menor idéia do que sejam judeus ou as noções de raça ariana do nazismo. Nem ao menos tem a menor consciência das tradições liberais de igualdade, liberdade e fraternidade decorrentes da Revolução Francesa. Lucien recebe a visita da mãe que vem avisá-lo de que a Resistência pretende matá-lo. Não contesta moralmente o que o filho faz (colaboracionismo). Apenas exerce uma função natural, biológica. A preservação da cria. Depois de avisá-lo, embarca em um ônibus e volta para casa. Na mesma cidade em que Lucien está, vivem um ex-alfaite da alta classe de Paris - ele é judeu e teve de vir para o interior quando as perseguições tornaram inviável sua permanência na capital francesa - com sua filha, France e sua mãe. Eles são chantageados pela Gestapo para poderem permanecer livres. Lucien e France se conhecem e, como jovens em pleno desenvolvimento (ambos estão num período de desenvolvimento entre a puberdade e a vida adulta)se sentem atraídos um pelo outro. O pai, claro, se horroriza que a filha se enamore de alguém que representa justamente a repressão pela qual sofrem o ostracismo naquele fim de mundo (O velho tem todos aqueles complexos sentimentos de ressentimento e lealdade de judeu aceito pré-Vichy). Ela, está desabrochando para a vida, tem desejos físicos e sociais insatisfeitos e após ser xingada de "judia sifilítica", diz, chorando, a Lucien que está "cansada de ser judia". Então, fazem amor. Depois de algum tempo, Lucien pretende entregar France à Gestapo, mas ao ser passado para trás por um soldado das Waffen SS, que impede-o de ficar com um relógio de ouro que tomaram da casa de France, Lucien mata o adversário e foge com France e a sua avó (dela) para o campo, onde sobrevivem por algum tempo através das habilidades de caçador de Lucien. Certa feita, Lucien adormece deitado sobre as pernas de France, que apanha um pedregulho pesado, pensando em esmagar sua cabeça. Ela hesita, desiste: uma afirmação de vida. Pouco depois, conforme mostram as legendas ao final do filme, Lucien e capturado pela Resistência e Aliados e executado em outubro daquele mesmo ano. Louis Malle conseguiu neste filme fazer um protesto candente e radical contra as bitolas ideológicas de ontem e de hoje. Como é possível que na França, capital cultural do Mundo, desde o século XVIII até a Segunda Guerra Mundial, existam garotos como Lucien Lacombe, que simplesmente desconhecem totalmente as tradições revolucionárias da França e os pressupostos humanistas dela emanados que influenciaram todo o mundo? Uma jovem judia, que sofre as humilhações da discriminação e perseguição do Período Vichy não se torna guerrilheira ou proponente da criação de um Estado Judeu, apenas quer viver como todas as demais garotas do mundo (esta questão é um chute nos países baixos de ideólogos sionistas: Um Theodor Herzl, uma Golda Meir, um Moshe Dayan. Não é difícil imaginar por que críticos judeus de Nova York disseram que Malle não entendia os sentimentos do povo judeu sob Hitler...)A crítica bem penteada de Paris se disse horrorizada pelo radicalismo de Malle. Um filme inesquecível, mais não fosse pela maravilhosa atuação de Holger Löwenadler, bem secundado por Pierre Blaise (Lucien) e Aurore Clement (France). Aliado a tudo isso, uma trilha sonora igualmente deslumbrante, assinada por Django Reinhardt. Louis Malle conseguiu erigir um protesto candente e contundente contra todas as ideologias que diminuem a vida autêntica. Um facho de luz na escuridão do patrulhamento e das imposturas ideológicas de todos os tipos: Sionismo, Comunismo, Nazismo, Direitismo-Vichista...Para mim um grande clássico do cinema, mesmo que não conste nas listas de muitos dos críticos rotineiros.
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Um comentário:

Fernando Luiz disse...

Sim, Lucien, em tese, encontra-se naquele estado que Marx e Engels decreveram como "idiotia rural", inconformados que se sentiam com o povo do campo que não ligava a mínima para os discursos libertários dos dois. O camponês, na verdade, não é idiota, mas apenas alienado, preferindo continuar assim a comungar com idéias "esdrúxulas e solertes" (hehehe!) que venham a perturbar seu mundo de limbo, inalterado por gerações e gerações, preocupando-se apenas com questões relativas a colheitas, doenças, animais, etc. Imagine se eles ainda tivessem de se preocupar com a escalada ou queda dos preços das comodities, etc. Lucien não raciocina muito sobre o que faz ou o que acontece. Apenas reage. Seja à beleza de France, ao gosto do vinho, uísque, boa comida, roupas e poder, seja ao ato de matar alguém. A meu ver, nem se poderia chamar aquela súcia de corruptos do pequeno vilarejo de Gestapo! Eram apenas antigos moradores ou pequenas autoridades recalcadas do interior da França, recrutadas a toque de caixa pelos invasores para ajudar a "tomar conta da população" que, tão logo alçados aos degraus baixos do poder já se animam a maltratar e explorar seus vizinhos e antigos desafetos. Causou espanto injustificado na crítica boçal de cinema o fato de haver um negro no seio daquela "Gestapo". Esquecem que tanto os "latinos" italianos, como os "amarelos" japoneses, que também compunham o Eixo, não eram de forma alguma, arianos. Também se percebe que as pessoas pareciam encarar a guerra como um mal indesejado ao qual não se podia escapar e que, esperava-se, passaria logo. Com excessão de notícias trazidas pelos antigos rádios à válvula, a guerra parecia distante dali, lembrada apenas por alguns eventos, como a fila de racionamento. Nem mesmo sons de bombardeios se ouvia. Uma ocupação tranquila dos nazistas, mas longe de ser colaboracionismo do povo. Este, como gado, consentia em ser tangido, desde que não se abusasse do chicote. Uma blasfêmia para os "engajados" do esquerdismo do cinema francês e mundial. Lacombe, Lucien (nome comlocado nesta ordem para simbolizar, entre outras coisas, o fato do personagem ser meramente um nome em um jogo de xadrez político)é um filme que todo cinéfilo de bom gosto deva ter em casa. Ou, pelo menos assistir uma vez na vida. Já vai valer a pena...