Fellini 8 1/2

Clássicos do Cinema - 1963

O tema de "Fellini 8 e 1/2" é a crise de inspiração pela qual passa um diretor de cinema, ao se questionar se realmente existe algo válido a ser transmitido através do cinema. Guido Anselmi, interpretado por Marcello Mastroiani ("A Doce Vida", "A Comilança", Matrimônio à Italiana", "Divórcio à Italiana", "Ginger e Fred", "O Belo Antonio", "Gabriela, Cravo e Canela"), é um artista cujo único comprometimento é com sua arte. Mas, ao se deparar com a indagação da validade ou não da sua expressão artística, Guido entra numa crise de criação que bloqueia a pré-produção de seu novo filme. Mergulhado então, em uma crise existencial, pressionado pelo produtor, pela mulher, pela amante e pelos amigos, ele interna-se em uma estação de águas e passa a misturar o passado com o presente, ficção com realidade. Buscando em suas raízes biográficas elementos possíveis para constituir um roteiro, Guido acaba mergulhando em memórias confusas, em devaneios oníricos e um vazio filosófico-existencial. Este é, provavelmente, o filme que trata da questão "metacinema" mais famoso, tendo sido homenageado por Bob Fosse e Woody Allen, com filmes abordando a mesma temática, respectivamente: "O Show Deve Continuar" e "Memórias". Biograficamente, o título refere-se à carreira de Fellini: este seria seu oitavo filme "e meio", pois já dirigira seis longa-metragens, dois episódios de filme e havia co-dirigido um longa-metragem, considerando-se, portanto, como "metades" os episódios de "L'Amore in Cittá" (53) e "Bocaccio 70" (62) e a co-direção de "Mulheres e Luzes" (50). Ao final do projeto, segundo Fellini, não encontrando melhor título, optou por este, assegurando que o filme só é, "superficialmente", biográfico. Para o diretor, "Otto e Mezzo" é "um meio-termo entre uma sessão incoerente de psicanálise e uma investigação de consciência algo desordenada, numa atmosfera nevoenta". Tudo, neste filme, conspira a favor da "eternização". Além do delineamento temático, um elenco de primeira, encabeçado por um dos maiores atores de todos os tempos, muito bem secundado por Claudia Cardinale, Anouk Aimmé, Sandra Milo e Rossella Falk, uma fotografia deslumbrante e a maravilhosa trilha sonora de Nino Rota, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Às vezes, até os Hollywood Men, acertam)... Não me vem à mente obra mais valiosa, no cinema, sobre o ato de criação no cinema.

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